Abuso Sexual! Essa é sua história?



Abuso sexual infantil, um incômodo tabu

O testemunho de um missionário que aos 5 anos teve sua inocência roubada e o impacto que este fato teve em sua vida cristã

por Jefferson Turbay 
Matéria publicada no blog 
O Remanescente .
Uma das descrições no dicionário para tabu é: assunto do qual não se pode ou não se deve falar. Algumas coisas viraram tabus dentro da igreja de Cristo. São assuntos não comentados, e quando isso ocorre é nítida a repulsa dos ouvintes. Mas porque algo que ocorre com grande frequência na nossa sociedade e às vezes ao nosso redor é promovido a essa categoria? Como poderemos salgar e iluminar, se nos recusamos inclusive a debater?



A cruel realidade da violência sexual infantil 

O ano é 1973 e muita coisa estava acontecendo ao redor do mundo. Fim da guerra do Vietnã, o Caso Watergate, o golpe militar no Chile, Antony Hopkins se casa. Menos global, porém outro fato ocorreu, manchando com sangue esse ano.
17 de Maio. Vitória, Espírito Santo. Uma menina de 8 anos é mantida em cárcere privado por jovens viciados, de grande influência na cidade. Eles a drogam, torturam, estupram, jogam ácido em seu rosto, matam e a jogam em um terreno baldio, desnuda e com o rosto desfigurado. O nome dela era Araceli Cabrera Crespo. Até hoje ninguém foi preso.
Ano 2000. É aprovado o projeto de lei que institui o dia 18 de Maio como “Dia Nacional de Combate ao Abuso Sexual Infantil”. A data foi escolhida em referência ao caso citado. O caso ficou famoso, mas infelizmente não foi o único. Depois muitos outros vieram.
A cada oito minutos um menor é vítima de abuso sexual no Brasil. Os dados são da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH). Isso equivale a dizer que, por exemplo, nas oito horas em que dormimos 60 crianças e adolescentes têm sofrido essa violência. Ou ainda, em um dia, 180 vítimas passam pela situação.
A idade de aproximadamente 80% das crianças afetadas varia de 2 a 10 anos. Esse tipo de crime, que pelas estatísticas vemos ser freqüente, é considerado pela Constituição Federal como crime hediondo. Segundo o Manual de Prevenção ao Abuso Sexual Infantil, publicado pela organização internacional Save The Children, as crianças sofrem consequências de curto e longo prazo, que são físicas, emocionais, sexuais e sociais.
Segundo a SEDH apenas 2 % dos crimes são denunciados. Até porque a maioria deles ocorre por pais e padrastos. O perfil do agressor é de um professor, pediatra, médico, estudante, advogado, morador de rua, ricos, pobres, religiosos.

Abuso e omissão da igreja no testemunho de um cristão violentado

A Bíblia nos mostra o que a falta de atenção com um problema sério dentro do lar pode gerar. Em II Samuel 13, vemos que Amnon amou a Tamar, esse amou significa desejou-a fisicamente. Amnon e Tamar eram filhos do Rei Davi, o homem segundo o coração de Deus. Mas a falta de atenção ao que estava acontecendo dentro de sua própria casa gerou problemas seriíssimos à família. Amnon abusou da irmã, destruiu a sua vida, a abandonou apesar do clamor dela e a maldição se instalou naquele lar, um dos motivos foi inclusive a omissão do rei. Absalão matou ao agressor, e fugiu. Quando retornou também não recebeu a atenção pelo erro, ou a punição. Ele se rebelou contra o pai e também acabou morto. Vemos uma sucessão de coisas geradas pela omissão.
O testemunho que se segue é de um missionário, que optou por não revelar seu nome. É profético por ser um alerta de Deus a igreja de Cristo. É forte por ser real, e a realidade atual é forte. Mexe com sentimentos, pois causa repulsa ao ocorrido, mas ao mesmo tempo reafirma que há esperança apenas no nome de Cristo para problemas como esse. E que se estivermos à disposição para quebrar os tabus que nós mesmos levantamos e sermos instrumentos de Deus, a cura chegará.

(Remanescente) Como foi o primeiro abuso sexual que sofreu e como ficou sua vida a partir deste fato?(M.) Aos domingos, após a Escola Dominical, meus pais me deixavam passar à tarde na casa de membros da nossa igreja. Em um desses domingos, aos 5 anos de idade fui abusado sexualmente por um jovem de 18 anos. Eu não sabia o que havia acontecido comigo, mas quando minha mãe foi me dar banho, eu reclamei as machucaduras que tinha em meu corpo, por causa das "brincadeiras" da tarde. Hoje sei os motivos pelos quais minha mãe me levou para tratamento psicológico após o acontecido. Infelizmente, meu pai (pastor da igreja) não fez muita coisa a respeito, e preferiu enterrar o assunto como se nunca tivesse acontecido, o que realmente não me ajudou! Ele já não era muito presente em meu dia-a-dia, sempre ocupado e distante da família, então meu senso de proteção e valor próprio começou a desmoronar muito cedo em minha existência.Não mais visitando famílias sozinho.




O mal desta vez veio de dentro de nossa casa. Uma empregada que tivemos começou a me abusar sexualmente aos 7 anos de idade, envolvendo também uma adolescente de 13 anos. Após várias "brincadeiras", minha mãe descobriu o que estava acontecendo e demitiu a empregada. Mas penso que o estrago já estava feito, e uma grande confusão habitava minha cabeça! Alguns jovens da igreja, provavelmente percebendo essa "confusão" em meu comportamento e sexualidade, se aproveitaram de mim, incorrendo vários abusos sexuais de tempos em tempos por mais de um ano. Comecei a pensar que só assim os outros garotos e garotas gostavam de brincar comigo, gostavam da minha amizade! No fundo sabia que algo não estava certo, porque sempre tínhamos que nos esconder para "brincar"...
Aos 9 anos mudamos de cidade, e lembro que me senti aliviado por não ter mais que viver naquela situação. Mas adolescência chegou, e toda a minha sexualidade estava mexida e remexida. Logo, um jovem um pouco mais velho que eu me apresentou pornografia e masturbação pela primeira vez. A partir daí, descobertas sexuais tanto com homens quanto com mulheres aconteceram ao longo dos anos. A confusão permanecia em minha mente, mesmo que com todo o meu ser eu desejava ser livre dela. Buscava a Jesus no meio de toda essa bagunça! Tentava ser um bom cristão, fazendo o que a igreja requeria. Como Deus poderia me amar e me aceitar desse jeito?! Eu não sabia! Ninguém fazia idéia do que estava acontecendo em minha vida e minha família. Infelizmente, nunca achei espaço e coragem para ser honesto e procurar ajuda com alguém dentro da igreja.

Como Deus entrou em sua vida e qual foi a consequência disto?Em 1998, tive uma revelação de que existe um adversário que quer destruir minha vida. Até aquele momento, eu rejeitava essa realidade, o que gerava em mim uma "fé duvidosa". Mas então, comecei a buscar a Deus e pedir que me libertasse das prisões do passado. Nunca abandonei minha crença em Jesus, mesmo vivendo em um "inferno pessoal", mas nunca tinha entendido o sacrifício remidor de Cristo. Em 2001, infelizmente me deparei vivendo um relacionamento sexual e de co-dependência com outro jovem. Eu sabia que estava errado, e não queria mais viver assim, então decidi buscar ajuda. Encontrei um grupo cristão de ajuda para homens que enfrentam problemas com a sexualidade. Minha jornada de cura iniciou quando entendi que Deus não deseja a minha performance religiosa, procurando perfeição para ser aceito, mas o Evangelho diz que Ele já me aceitou e me amou desde o início da minha vida. Não há nada que possa me desqualificar diante do Sangue Salvador de Cristo. Entendi que Jesus quer um relacionamento real comigo, e esse amor incondicional e sua Graça têm me sustentado na restauração da minha identidade, sexualidade e valor próprio diante de Deus e da sociedade.

Como de vítima, sem esperança, você se tornou um agente das Boas Novas?
Diante da transformação que a minha adoção como Filho de Deus gerou em mim, recebi o chamado para pregar as Boas Novas por todo o mundo. Hoje sou missionário para a expansão do Reino do meu Pai. Já estive nos 6 continentes da Terra, proclamando o Evangelho de que Jesus veio pra que tenhamos a vida, e vida em abundância (Jo10:10) porque Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida em si mesmo (Jo14:6)! É como Paulo escreveu: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda a consolação, que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus." 2 Cor 1:3-4

Como você acha que estaria se Deus não tivesse o resgatado?
Acho que estaria vivendo em um terrível "inferno pessoal", perturbado pelas acusações e mentiras da sociedade e do inimigo. Provavelmente derrotado e sem direção. Existindo e não Vivendo! Realmente não consigo imaginar minha vida sem a presença de um Deus, que me defende que luta por mim e me resgatou da confusão mental e espiritual em que me encontrava! Sem o relacionamento com este Deus não há esperança de mudança, de futuro, de vida plena, de Ser o que Deus nos criou para Ser!
Por isso, creio que como igreja, precisamos "rasgar o verbo" sobre assuntos como pedofilia, abuso sexual, etc., porque são situações reais e acontecem muito mais frequentemente do que pensamos, mesmo em nosso meio. Não somente falar sobre o assunto, mas direcionar para a Solução, a Resposta: A Vida EM Jesus (Gal 2:20), e AFIRMAR ao mundo de que existe Restauração. Nossas congregações estão cheias de pessoas que carregam fardos pesados por anos e buscam desesperadamente por ajuda... Ajuda em Deus, mas que precisa ser demonstrada por pessoas que possam abraçar, chorar junto, ouvir, orar e caminhar uma jornada que não é fácil, mas existe Graça Ilimitada e Disponível para TODOS (AS) que O buscam. Se hoje posso estender a mão a outros é porque um dia alguém estendeu a mão para mim. Preciso dizer que não foi fácil dar esse primeiro passo, mas penso que quanto menos tabus houver na igreja, menos muros de religiosidade e performance, mais liberdade existirá para pessoas encontrarem o Jesus Vivo, que as ama e nunca vai desistir delas, seja qual for a situação!


Texto retirado de: http://attitudejc.blogspot.com.br/2011/01/abuso-sexual-infantil-um-incomodo-tabu.html

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